quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

NOVOS RUMOS...




(Contribuição do historiador cachoeirense Vinícius Maia* ao nosso blog)
(Coluna publicada tradicionalmente no jornal "O Melhor da Serra")



Quero iniciar minha primeira coluna de 2011 com uma citação de Vanessa Cristina Santos, com base em Thompson (A formação da classe operária inglesa): “a classe social é resultado das relações sociais, das experiências que se articulam e desdobram em identidades comuns, em formas de lutas e organizações, sobretudo porque a consciência é a forma como essas experiências são tratadas em termos culturais, encarnadas em tradições, sistemas de valores, idéias e formas institucionais (Santos, 2009)."

                Buscando uma interpretação dessa fala de Thompson, uma classe social se forma na luta, através da experiência, que traz uma identidade. A construção dessa identidade gera uma consciência, a consciência de classe. Escrevo isso porque não vejo, ainda, a formação de uma consciência de classe no nosso meio artístico e cultural. Não somos classe justamente porque ainda não unificamos uma luta que nos trouxesse uma identidade como classe. Não somos classe ainda...somos apenas grupos!

            E tal circunstância colabora para que intervenções junto a artistas, produtores culturais, empresários possam ser feitas através de uma abordagem de forma fragmentária. Sem noção de classe, essa fragmentação se apóia numa não existência de uma consciência que oriente nossa ação como, por exemplo, trabalhadores. Foi exatamente quando os professores, através de um momento em que essa consciência de classe era viva, que alcançaram seus maiores avanços e conquistas. Não concessões, mas avanços na luta, luta esta que gerou e solidificou uma identidade, alimento da consciência classista.

Penso que, se os grupos voltados para as questões culturais se entenderem não apenas como representantes ou pertencentes a espaços geográficos limitados ou atividades distintas, mas sim como classe, a experiência gerada também na luta por conquistas poderá nos trazer essa também poderosa consciência de classe. O que não significa o abandono de identidades locais. Falo aqui, da construção de uma identidade de classe de nós, os trabalhadores da Cultura. E o que seria essa identidade? Vejo-a como a idéia de pertencimento. Sentimento que unifica, e pode unificar, mesmo na diversidade. Ser artista hoje é pensar, sentir e viver a arte na concretude da sociedade. Não é, apenas, se apresentar em um evento, ou subir em um palco, ou escrever algumas linhas. O artista é um trabalhador, um ser social e se social, político.

            Uma “unificação” como classe – e classe trabalhadora – é construída através do pertencimento a uma pauta comum de lutas. Lutas essas que poderão ser capazes de, em meio à nossa diversidade de “fazeres”, de saberes, de identidades locais, gerar uma ação que beneficie a todos, como classe. Ou seja, que beneficie nossos interesses de classe.

            E segundo o texto acima, essa consciência viria de um conjunto de tradições (ora, somos uma cidade de muitas culturas!), sistemas de valores, desde que construídos na nossa experiência prática e não na aceitação de um dado discurso, idéias (isso temos de sobra!) e formas institucionais, pois será na nossa presença em instituições que se poderá implementar, institucionalmente, nossas pautas de luta.

E o que seria essa luta? Seria a adoção de uma pauta de conquistas que trouxesse a nós, trabalhadores da Cultura, maior inserção nas estruturas do poder. E na atualidade, não há mais espaço para a idéia de que o poder deva ser apenas gerido e vivido no âmbito governamental, na ocupação de cargos de governo. O governo é, hoje, apenas mais um dos espaços de representação e de vivência do poder. E aqui me parece que se possa estabelecer uma distinção possível entre governo e gestão, no sentido que cabe ao governo implementar objetivos propostos numa gestão. Gestão na qual nós, trabalhadores da Cultura, temos, pela própria instituição daquele elemento que legitima nossa ação, que é a lei, direito em exercer nosso poder, ou seja, nosso direito em interferir. Falo assim, de algo mais amplo: de nossa identidade como classe. Hoje, representamos importante segmento social em Cachoeiras de Macacu e não apenas no que se liga a entretenimento, mas também à geração de riqueza, à formação de opinião, de pensamento e... de votos! Como classe, teremos, certamente, mais poder. E poder, repito, é a capacidade de interferir.  

E essa interferência pode se dar de múltiplas formas. Uma delas seria, do ponto de vista institucional, nossa presença, e interferência, nos mecanismos de gestão. Mecanismos como o nosso Conselho Municipal de Política Cultural. Não como uma concessão, mas como um direito. E repito, direito de interferir, direito de ter, também, poder!           

Hoje vivemos, como dizem os historiadores quando falam sobre o Império, um “parlamentarismo às avessas”. Nos é dito que tudo está pronto para se implementar nosso Conselho e as leis que dizem respeito a nós, para somente depois, se nos entregar isso como forma de concessão. Seremos, talvez, “parceiros”? 

No novo ano que se inicia, e após uns poucos dezesseis meses de atraso, voltará á tona a discussão acerca de nosso conselho e das leis que se referem diretamente aos nossos interesses. Espero, confiante, que aos nossos interesses como classe.



*Vinícius Maia é historiador, professor e músico


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